Os efeitos da globalização econômica sobre o trabalho, nas últimas quatro décadas, têm sido objeto de intenso debate no meio acadêmico e sindical. Considerando as especificidades regionais e nacionais, uma possível avaliação deste cenário identifica um crescimento do poder das grandes empresas, organizadas em redes globais de produção (RGPs), sobre o trabalho, através dos processos de flexibilização, redução de direitos laborais, deslocamento geográfico dos empregos e enfraquecimento da capacidade de negociação dos sindicatos. A questão que se coloca, do ponto de vista dos que vivem do trabalho, se refere à sua capacidade política de reconstruir mecanismos de defesa, de articulação e de solidariedade em face das adversidades da globalização. A necessidade de internacionalizar estratégias na atual conjuntura tem exigido algo mais do que práticas tradicionais de organizações sindicais burocratizadas e verticalizadas. Discutem-se outros níveis de atuação, mais horizontalizados e em rede, e uma associação de lutas mais estreita com movimentos sociais não habitualmente ligados às questões do trabalho.
A proposta deste texto é fazer um breve balanço de uma vertente de discussão que, diante dos novos desdobramentos do processo de acumulação capitalista, vê sinais de resistência e potencial de contestação e confronto político nas mais variadas escalas (global, nacional e local) e aposta na possibilidade de construção de novos recursos de poder por parte dos trabalhadores e seus órgãos de representação. O texto aborda, como um exemplo concreto de articulação internacional, o caso do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volskwagen e sua organização no Brasil, e discute os avanços e problemas de iniciativas voltadas para o estabelecimento de padrões mundiais de relações de trabalho.
José Ricardo Ramalho. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fonte: Revista de Ciências Sociais: Política & Trabalho, João Pessoa, n. 41, p. 25-43, out. 2014.