THEMIS completa 30 anos de história fazendo parte indissociável do feminismo brasileiro

A THEMIS – Gênero, Justiça e Direitos Humanos foi criada em 1993 por um grupo de advogadas e cientistas sociais feministas com o objetivo de enfrentar a discriminação contra mulheres no sistema de justiça.  Em 2023, a organização completa 30 anos de atuação e sua história permeia lutas e conquistas das mulheres brasileiras.

Desde a sua fundação, a organização feminista e antirracista desenvolveu programas de formação de PLPs, Trabalhadoras Domésticas (TDs) e JMCs, participou do consórcio de organizações que debateu e propôs a Lei Maria da Penha, bem como atuou junto a organizações que lutam pelos direitos das trabalhadoras domésticas entre outros projetos.

Para celebrar as três décadas de atuação em defesa dos direitos humanos das mulheres, a Themis fará uma festa aberta ao público em 24 de março, no Agulha Bar (Rua Conselheiro Camargo, 300, bairro São Geraldo), em Porto Alegre.

A celebração, que se inicia às 20h, contará com a presença da equipe da Themis, bem como de Promotoras Legais Populares (PLPs), Trabalhadoras Domésticas (TDs), Jovens Multiplicadoras de Cidadania (JMCs) e de nomes importantes para a trajetória da organização feminista e antirracista.

Antiga diretora da Themis, Denise Dora, destaca que as homenagens que serão realizadas nesta noite visam homenagear, além de importantes feministas, mulheres das carreiras jurídicas. Mulheres que, quando o debate feminista ainda era muito controverso sobre vários aspectos, emprestaram sua reputação e sua história para ajudar a sustentar a organização. “Eu acho que a Marilinda Marques Fernandes é uma dessas pessoas. Quando a Themis decidiu se dedicar ao tema de trabalho doméstico, ela participou do conselho e foi muito importante para nos ajudar a pensar, e nos orientar”, comenta. Denise ressalta que haverá homenagens a algumas lideranças feministas do Rio Grande do Sul que foram pares da organização nessa trajetória.

Os primeiros passos

Em três décadas, muitas histórias marcantes passaram pela organização e para antiga diretora Denise Dora é difícil escolher uma, mas cita a primeira turma de Promotoras Legais Populares (PLPs), que nasceu no bairro Bom Jesus, o popular “Bonja”, em Porto Alegre. “Naquela época, aquela era uma região dominada por violência, facções, e todo mundo tinha medo de entrar lá. A gente conheceu a liderança da Vila Bom Jesus numa assembleia do Orçamento Participativo. Uma liderança importante, a Marli Medeiros, peça fundamental que muito fez e mudou a vida daquela comunidade. E ela nos convidou para uma reunião lá e  disse que montaria  um grupo de mulheres, a gente foi e ali começou a primeira turma”, relembra.

Denise Dora conta que a turma funcionava numa escolinha do bairro, aos sábados à tarde, com muita organização, metodologia e didática e contava com cerca de 20 mulheres. “Foi sensacional, eu tenho uma lembrança assim de chegar na bonja no outono – ou inverno, e sempre encontrar aquele grupo de mulheres esperando, com seus materiais, ensinando sobre o Direito, sobre o Estado, fazendo trabalho em grupo. Elas nos esperavam com bergamota, na porta da escola. E aquilo foi, assim, revolucionário”, comenta sobre como foi muito rico para a vida da Themis entender o acesso à justiça nessa perspectiva e aprender, também, com as PLPs.

Ainda naquele mesmo inverno, a Themis convidou o então juiz Rui Portanova para dar uma aula e, por coincidência, a RBS estava fazendo uma reportagem sobre o bairro Bom Jesus no dia desta aula e os jornalistas foram ver o que estava acontecendo. “Fizeram uma entrevista com o Rui – daquelas matérias lindas que de tão bonita entrou no Jornal Nacional. Num sábado de noite, horário nobre. A Themis fez assim uma estreia de gala, em todos os aspectos, foi na Bom Jesus com as suas mulheres destacadas por uma prática de liderança, região por si só muito sofrida, muito excluída, com muitos problemas, mas também com um histórico de enorme resistência. Estreou nacionalmente no Jornal Nacional contando uma história diferente sobre o acesso à Justiça. Então esse foi sem dúvida  foi um fato memorável”, destaca.

Pandemia: e agora?

Denise relembra ainda que durante a pandemia, a Themis organizou cursos para cerca de quinhentas trabalhadoras domésticas. “Eram cursos organizados por WhatsApp, não era nem online porque muitas trabalhadoras não têm acesso a uma internet estável, então a Themis montou uma metodologia de compartilhar conteúdo via pequenas mensagens de WhatsApp e de exercícios em pequenas aulas/áudio. Então a gente também renovou toda o nosso estoque de metodologias e didáticas o que foi muito interessante”.

Vida longa à Themis!

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