Síndrome do Brown-Out : quando o trabalho não faz mais sentido

O clínico-geral francês François Baumman lançou em janeiro um livro sobre o Brown-Out, uma nova síndrome profissional que pode atingir, segundo estimativas, cerca de 40% dos trabalhadores no mundo, que não veem mais sentido no que fazem.

O Burn Out, ou a Síndrome da exaustão profissional, é um mal que atinge 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros, segundo estimativas do Instituto Isma (International Stress Management Association). O termo se popularizou e levou, no decorrer dos anos, à descoberta de outras doenças similares, ligadas ao esgotamento profissional, identificadas pelos psiquiatras. É o caso do Bore-Out, ou tédio no trabalho, e mais recentemente do Brown-Out, teorizado por dois pesquisadores, o sueco Mats Alvesson, da universidade de Lund, e André Spicer, da Cass Business School, em Londres, em 2016.

O termo identifica trabalhadores que não veem mais nenhum sentido naquilo que fazem. Suas tarefas são descritas como inúteis, contraproducentes e pouco interessantes. Sentimentos que nos dias de hoje podem ser comuns a muitos assalariados, mas que em alguns casos se tornam patológicos.

Na França, o tema é objeto de estudo do clínico-geral François Baumman, professor da escola de Medicina parisiense René Descartes. Especialista em doenças psíquicas relacionadas ao sofrimento profissional, Baumman acaba de lançar o livro “O Brown-Out, ou quando o trabalho não faz mais sentido”. Em entrevista à RFI Brasil, ele explicou como a doença pode levar a formas graves do Burn-Out se não for tratada a tempo.

RFI – Como podemos descrever o Brown-Out?

François Baumman – Podemos descrever o Brown-Out, em termos médicos, como o resultado do conjunto de sintomas relacionados ao sofrimento profissional. O Burn-Out é uma exaustão psíquica e física provocada pelo excesso de trabalho. O Bore-Out é a mesma coisa, mas o gatilho é o tédio, o que provoca um desequilíbrio mental e orgânico. O Brown-Out é uma espécie de desconexão da realidade, uma perda de interesse, uma tomada de consciência do absurdo das tarefas que são realizadas. É um conceito novo, mas que resulta do Burn-Out e do Bore-Out. São estados depressivos, mas com aspectos diferentes, que no momento do diagnóstico conseguimos distinguir.

RFI – Como o problema pode ser tratado?

FB – A única maneira de tratar o problema é voltar a dar sentido àquilo que se faz. Conscientizar-se de que o trabalho não corresponde mais às suas expectativas e tentar mudar de emprego, na medida do possível. Nem sempre é fácil na sociedade em que vivemos. Outra opção é buscar uma nova motivação depois de uma interrupção. Em geral é necessário parar um pouco. A palavra-chave é distanciamento.

RFI – Como os pacientes descrevem esse mal-estar?

FB – O discurso mais frequente é o do paciente que conta ter escolhido uma profissão e assumido um cargo empolgado com as possibilidades profissionais mas que acabou desmotivado por um ou vários chefes. Esses chefes são descritos como “narcisistas manipuladores”, perfil que está na moda. Eles sobrevivem diminuindo os outros à sua volta. Segundo esses assalariados, esses superiores os impediram de se realizar no que faziam. Isso é uma realidade. Acontece no trabalho, no casal, entre amigos, em muitas situações. Ouço com frequência a descrição de uma espécie de “perversão do sistema”.

RFI – Como essas pessoas superaram essa situação?

FB – Em resumo, é um trabalho que o indivíduo deve fazer consigo mesmo. Conscientizar-se de seus limites, de que não é mais possível ir trabalhar. Em casos como esses, é necessária uma psicoterapia e questionar a si mesmo. Nem todo mundo é capaz de se questionar. Na sociedade francesa isso não é comum, mas aos poucos isso está mudando. Estamos aceitando mais o fato de que não somos capazes de fazer tudo e mudando nossos paradigmas.

RFI – Você considera que se investir muito no trabalho é um problema?

FB – Investir-se demais em uma tarefa, seja espontaneamente, porque acreditamos nela, consideramos como algo genial, ou não, é um problema porque em geral não há retorno. É uma queixa recorrente dos pacientes. Eles têm a impressão de se esforçarem, fazerem tudo o que podem, mas sem reconhecimento.

RFI – Você acredita em uma transformação da sociedade que evitaria esse tipo de distúrbio?

FB – Os defensores do Management devem progredir em seus conceitos. Há tentativas, mas são estúpidas e infelizes. Por exemplo, se imagina que se as pessoas estão tristes no trabalho, a melhor solução é distrai-las, instalar um “pebolim” na sala de reunião. Esse não é o problema. Nesse ponto sou otimista, porque acredito que essa situação não pode durar mais muito tempo. Mas não é só uma questão de motivação, é um trabalho pessoal também. Não só as empresas são responsáveis. As pessoas não devem aceitar serem tratadas como imbecis. Não damos autonomia para aos trabalhadores. Em muitas profissões, considera-se que os assalariados são incapazes de tomar uma iniciativa, e ela sempre deve vir de cima.

Fonte: RFI

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