Por Daniele dos Santos Fontoura / Johannes Doll / Saulo Neves de Oliveira
A aposentadoria é vivenciada de diferentes formas dependendo das trajetórias profissionais, do processo de envelhecimento e de características pessoais. O presente artigo analisa os relatos de 70 sujeitos acima de 45 anos que discorrem sobre suas perspectivas e experiências em relação à aposentadoria. Os resultados da pesquisa sinalizam, por um lado, o impacto da aposentadoria sobre os trabalhadores, desafiando-os a repensarem e reorganizarem suas vidas. Por outro lado, demonstram que existem formas diferentes e divergentes de lidar, influenciadas pela natureza e condições das trajetórias laborais, bem como pelo modo como percebem e vivenciam o processo de envelhecimento.
A aposentadoria é um fenômeno do mundo moderno e das sociedades industrializadas. As novas formas de trabalho, como o emprego assalariado, e as modificações na estrutura social do século XIX, contribuíram para a criação da instituição aposentadoria. Pensada inicialmente como um tipo de esmola do Estado, a aposentadoria se transformou em um direito social e em um novo estágio de vida que goza de seu próprio nome, bem como de estrutura legal, ofertas de consumo, revistas e livros e comunidades de vivência relacionadas ao tema.
Como as pessoas enfrentam, hoje, no Brasil esta situação ambivalente da aposentadoria? Quais são as expectativas dos sujeitos que estão se aproximando da idade de aposentadoria? E como foram as experiências de pessoas que passaram pelo processo de aposentar-se? Estas são as perguntas centrais do presente artigo. Para obter respostas, o artigo traz, em um primeiro momento, contribuições de três teorias clássicas da Gerontologia: Teoria do Desengajamento, Teoria da Atividade e Teoria da Continuidade. Em um segundo passo, o artigo discute perspectivas atuais a respeito da aposentadoria, demonstrando a ambivalência presente nos diferentes discursos. Assim, o artigo analisa 70 entrevistas com adultos maiores de 45 anos que procuraram um curso de introdução ao uso do computador, sendo que pouco mais da metade deles já estava aposentada. Os dados demonstram o imaginário sobre a saída do mundo do trabalho para aqueles que ainda estavam trabalhando e a forma como este processo foi vivenciado por quem já havia saído do mundo do trabalho. Além disso, indicam em que aspectos essa experiência correspondeu às expectativas que tinham quando ainda estavam trabalhando.
As entrevistas mostram, por um lado, que a aposentadoria e a saída do mundo do trabalho são, de fato, acontecimentos impactantes nas vidas das pessoas, exigindo uma série de novas aprendizagens e reorganizações. Por outro lado, fica evidente que existem muitas formas diferentes de como este processo é experimentado pelas pessoas. Apesar do grupo dos participantes da pesquisa não ser representativo para a população brasileira em geral, as respostas permitem uma visão diferenciada de como o processo de aposentadoria está sendo vivido hoje no Brasil.
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Daniele dos Santos Fontoura é bacharel e mestre em Administração. Doutora em Administração (UFRGS) e doutora em Sociologia Econômica e das Organizações (Universidade de Lisboa). Professora de Administração CNEC/FACOS.
Johannes Doll é pedagogo, teólogo, gerontólogo. Possui mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS e doutorado em Educação pela Universitat Koblenz Landau. Atua como docente da graduação e pós-graduação em Educação na UFRGS. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: envelhecimento, educação, gerontologia, trabalhadores mais velhos e informática.
Saulo Neves de Oliveira é professor de Educação Física. Mestre em Educação (UFRGS). Doutorando em Educação.
Fonte: Educação & Realidade