O poder é dos homens.
O que se passou naquela sala de audiências de uma Vara Criminal no Fórum de Florianópolis, os poucos minutos que pudemos tomar conhecimento, graças às redes sociais, é a expressão mais evidente da ação do patriarcado nas instituições. Mariana Ferrer, a vítima, era a única mulher naquela sala com quatro homens, todos que exerciam seu poder de macho ofendendo, humilhando e oprimindo aquela jovem que implorava por respeito. Um deles, que falava por dois – por ele próprio e pelo outro macho a quem representava legalmente, verbalizava as ofensas enquanto os outros três assistiam a tudo calados. O silêncio deles soava aos ouvidos de Mariana como gritos ensurdecedores de culpa e, portanto, merecedora de todas aquelas indignidades.
Afinal, Mariana quebrou algumas regras do patriarcado, então deve ser condenada à fogueira, não mais como as da idade média, as de agora incineram a honra, a dignidade, a credibilidade, deixam o corpo vivo, mas dilaceram o espírito. O poder é dos homens. Como ousa Mariana enfrentar esse poder? Seu papel, o patriarcado já determinou, é de subalternidade, aquela sala é um espaço de poder, ali não tem lugar para ela. E, como ali não é seu lugar, não há empatia, não há respeito, não há compaixão.
Para aquele quarteto de machos, não importa o sofrimento daquela jovem em ter que repetir várias vezes os fatos que a levaram àquela sala de audiências e a cada repetição ter sua palavra colocada em dúvida e ser desqualificada. Em face dos estereótipos, se é jovem, bonita e trabalha em festas, não deve ter boa reputação. Lembram aquele termo “mulher honesta”? Pois é, ele ainda está aí para que o sistema selecione quem pode ou não ser vítima de crimes sexuais.
Sabemos que a mudança de cultura não é algo simples nem fácil, mas é urgente que as instituições que integram o sistema de justiça adotem protocolos de atuação com perspectiva de gênero e de não discriminação de qualquer tipo.
Nenhuma mulher nem ninguém pode ser tratada como Mariana foi naquela sala de audiências.
O escritório Marilinda Fernandes Marques se posiciona CONTRA a postura tomada pelos homens, advogado, promotor e juiz, naquela sala. Para esta posição, temos como base as cenas da gravação da audiência cujo vídeo circulou amplamente nas redes sociais.
TODAS E TODOS nós do escritório Marilinda Fernandes Marques nos solidarizamos com Mariana pela dor que o Estado lhe causou e com todas as mulheres que sofrem frequentemente as violações desse Estado que perpetua o patriarcado mantendo todo poder aos homens.