A formatura das promotoras legais populares do curso organizado pela Themis se consolidou como um dos belos momentos de 2013, em que tive a alegria de participar da cerimônia como cidadã e como professora homenageada.
Ter trocado, durante a aula, o saber acadêmico com o saber achado na rua foi, sem dúvida, uma forma de humanizar o direito e de colocá-lo ao serviço daqueles que por séculos têm sido mais vítimas da lei do que filhos da lei.
Na cerimônia, aproveitei para expressar a perplexidade que sempre me causa o fosso na convivência das mulheres no Brasil, compartimentadas em verdadeiros campos que não se comunicam. Quero dizer que, apesar de não se falar em guetos, eles existem na medida em que as mulheres, aliás, como os homens, convivem segundo o seu extrato social, de tal modo que é raro vermos grupos de mulheres de classe média ou intelectuais se encontrarem, com caráter social e afetivo, com as mulheres que vivem, poderíamos dizer, confinadas em suas vilas. As mesmas frequentam, na maior parte das vezes as casas das mulheres da classe média, mas como babás ou empregadas, numa relação de completa subordinação, ilustrando de forma violenta, o déficit democrático brasileiro.
Então, ao ter o privilégio de ter dado aula e, sobretudo, de ter participado neste projeto que trabalha na promoção da igualdade e na democratização do saber, me senti mais integrada na construção de uma sociedade sem classes e mais mulher entre as mulheres.
